Acompanhando de perto os movimentos políticos em São Paulo, especialmente com a proximidade das eleições para a Prefeitura, tenho me pego refletindo sobre o termo “psicodélico” e como ele pode se aplicar, de maneira figurada, às experiências pessoais e coletivas de quem participa ou assiste ao cenário político. Tradicionalmente, o termo psicodélico vem do grego e significa “manifestação da mente” ou “revelação da alma”, remetendo a experiências intensas e transformadoras, geralmente associadas ao uso de substâncias que alteram a percepção, mas que também permeiam o campo da arte, da música e da cultura.
Quando pensamos em psicodelia, podemos visualizar aquelas figuras que parecem estar “viajando na maionese”, quase em êxtase, desconectadas da realidade cotidiana e mergulhadas em um universo próprio de visões e sensações profundas. Esse estado, muitas vezes associado a algo fora do comum, pode muito bem descrever certas experiências psicológicas intensas, seja através de uma “distorção” proposital da realidade ou uma busca por algo mais elevado e unificador. Na política, por exemplo, essa “viagem” pode ser uma metáfora para a desconexão que muitas vezes sentimos em relação à realidade política e social ao nosso redor. Estamos todos “alterados” de alguma forma, não por substâncias, mas por discursos, promessas e traumas coletivos que moldam nossa percepção do mundo.
Psicodelia e Trauma
No campo psicológico, as experiências psicodélicas são estudadas hoje em dia não apenas como algo exótico, mas também por seu potencial terapêutico. Substâncias como o LSD e a psilocibina têm sido investigadas como tratamentos promissores para transtornos como a depressão, a ansiedade e o TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). Esses transtornos, muitas vezes causados por traumas marcantes, podem ser comparados às “viagens mentais” induzidas pelos traumas pessoais ou coletivos que vivenciamos. Quando se fala de psicodelia, fala-se de uma profunda imersão no interior da mente, onde visões e sentimentos intensos afloram e desafiam nossa percepção da realidade.
Agora, pense no contexto político. Muitos de nós temos traumas, seja por desilusões com governos passados, promessas não cumpridas ou um cansaço generalizado com o cenário atual. Esses traumas moldam a forma como vemos os candidatos, as propostas e, claro, o futuro. A experiência política pode, muitas vezes, se tornar uma “viagem” em que sentimentos profundos e, por vezes, distorcidos influenciam nossas escolhas e percepções. Será que estamos “viajando” quando nos apegamos a certas promessas, ou será que estamos nos agarrando a um fio de esperança em meio ao caos? A psicodelia da política é intensa.
Auto-sabotagem Coletiva
Esse processo de mergulhar em traumas passados e, muitas vezes, revivê-los no presente também pode ser uma forma de auto-sabotagem coletiva. Assim como alguém que vivencia o TEPT pode se ver preso em um ciclo de dor e sofrimento, incapaz de sair dessa espiral sem ajuda externa, nós, como sociedade, também nos sabotamos repetindo ciclos políticos destrutivos. Seguimos votando em candidatos que prometem mudanças radicais, mas acabam nos levando de volta ao ponto inicial, ou pior, nos mergulhando em uma percepção distorcida da realidade, como se estivéssemos sob o efeito de uma experiência psicodélica negativa.
Será que projetamos nossos traumas políticos em certos candidatos? É possível que a esperança de uma revelação, de uma “cura” para o estado atual das coisas, esteja nos cegando para as consequências reais de nossas escolhas? A política, assim como a psicodelia, pode ser um terreno fértil para a auto-sabotagem, onde buscamos transformação, mas acabamos afundando ainda mais em nossos próprios medos e desilusões.
A Política Como Experiência Psicodélica
Olhar para o cenário político atual de São Paulo, com candidatos trazendo promessas de “cura” para os problemas da cidade, me faz pensar em como a política se tornou uma experiência psicodélica para muitos. Vivemos em um estado de êxtase e decepção, de esperança e desilusão, numa alternância constante de percepções e sentimentos. Assim como a psicodelia revela partes ocultas da mente, os movimentos políticos revelam aspectos profundos de nossas crenças e medos, expondo o que há de melhor e pior em nós enquanto sociedade.
Algo em comum com traumas marcados? Pense em como traumas passados, tanto individuais quanto coletivos, continuam a moldar nossas escolhas. Muitos eleitores carregam traumas de governos anteriores ou de promessas não cumpridas, e esses traumas podem ser tão fortes que acabamos nos sabotando ao escolher candidatos que, de certa forma, reforçam esses padrões destrutivos.
Será que você já se identificou em algum candidato e, em retrospectiva, percebeu que estava apenas repetindo um padrão de auto-sabotagem?